Da Cultura “Humana” ao “Exposed”: A Falha da AbacatePay
Vamos começar com o óbvio: uma empresa não é o pai de ninguém. Demitir funcionários é uma parte normal e, por vezes, necessária da gestão. Se um colaborador está prejudicando a operação ou a cultura, a liderança tem a responsabilidade de agir.
Aliás, uma demissão é um evento caro para a própria empresa, que investiu tempo e dinheiro na contratação. Por isso, o caminho inteligente é sempre tentar corrigir. Um bom processo de gestão envolve feedbacks claros, avisos e a tentativa de realinhar o funcionário antes de se chegar ao ponto da demissão. Isso é o básico.
O que me incomoda profundamente na treta recente não é o ato de demitir o @RefleX2D da AbacatePay. É a absoluta desconexão entre o marketing e a prática.
Estamos falando de uma empresa que construiu sua imagem pública inteira na promessa de ser “diferente”, mais humana, uma “família”. A AbacatePay, liderada pelo @ChristoPy_ e pelo @daniellimae, escolheu o caminho do “build in public”, que vende transparência total como virtude.
E foi exatamente essa empresa que, aparentemente, demitiu um colaborador “do nada”, sem um processo claro de feedback, e depois cometeu o ato indefensável de expor essa pessoa numa stream de visibilidade nacional, no caso, a do @manodeyvin.
Isso ultrapassa a má gestão. É completamente antiético. Mesmo para uma empresa tradicional, isso seria um absurdo. Para uma empresa que se vende como humana, é o cúmulo da hipocrisia.
E, para ser honesto, essa postura não me surpreende totalmente, por mais que me irrite. Confesso que já tinha um pé atrás com os fundadores. Acompanhando projetos anteriores como @alertpix_live e @tech_ears, a sensação que fica é a de uma imaturidade na gestão das expectativas. Parece haver um foco muito grande no hype, em se posicionar como “disruptivo”, em criar a narrativa do “build in public”, mas que não se sustenta na hora de lidar com os problemas difíceis e reais da gestão.
Além disso, essa postura expõe um problema muito maior da própria comunidade “build in public”. É um ecossistema onde todo mundo quer ser o 1%, e a regra não escrita é a vanglória mútua. Falta qualquer discernimento crítico. “Mais um produto” aleatório é elogiado como se fosse a coisa mais foda do mundo, mesmo sendo óbvio que não teve o mínimo de pesquisa de mercado. Muitas vezes o processo é totalmente invertido: fazem um produto e só depois tentam achar um problema que ele resolve. É uma bolha onde fica um lambendo a bota do outro em troca de marketing.
O @RefleX2D estava errado em suas atitudes? Talvez. Provavelmente nunca saberemos a história completa. Mas isso é irrelevante para o ponto principal. O que sabemos é que ele, ao que tudo indica, não recebeu o feedback necessário para corrigir sua rota e, pior, foi queimado publicamente de graça.
Empresas precisam aprender a gerir pessoas. Pessoas não são ferramentas. E se você decide construir sua marca na premissa de ser “diferente” e transparente, você é o primeiro que deve ser cobrado quando age como o pior do mundo corporativo. Essa pataquada da AbacatePay mostra uma falha grave de liderança.